“A vida não é a que a gente viveu, mas sim a que a gente recorda, e como a recorda para contá-la.”
Gabriel García Márquez
Em "A Arte do Encontro", incursiono novamente na literatura com um romance autobiográfico apresentado de forma ficcio nal, que enfatiza o meu lado mais pessoal, espiritual, místico e imaginativo, uma representação mais próxima da minha expe riência individual. A vida dos personagens é apresentada a partir de um encadeamento de encontros e desencontros signi ficativos, com “flashbacks”, não necessariamente seguindo uma sequência de causa e efeito ou previsível. A presença feminina tem sido uma constante em minha traje tória.
Dessa forma, presto aqui uma homenagem a todas as admiráveis mulheres com quem tive encontros e desencontros, e que determinaram a minha trajetória de vida. Para isto, encarno a personagem Anima, que é a narradora do romance e que segundo Carl Jung é a personificação das qua lidades femininas presente no inconsciente de todo homem, a sabedoria capaz de intuir sobre o funcionamento do mundo e da vida. No romance, ela representa a minha alma, vida e des tino e me ajuda a conduzir minha jornada, interiorizando em mim qualidades como o amor, a empatia, intuição, sensibilida de, determinação e resiliência.
Nesta história, a alma é vista como a essência imortal de um indivíduo. É sua parte mais pura e verdadeira conectada ao divino ou ao universo e transcende o corpo físico. A vida é o palco onde a alma se manifesta e evolui, enfrentando desafios e realizando aprendizados. O destino, por sua vez, pode ser visto como o fio condutor que guia essa jornada, podendo ser pré-determinado ou moldado por nossas ações. A intersecção desses três elementos sugere que a vida não é apenas uma série de eventos aleatórios, mas sim a ocorrência de encontros e desencontros que moldam o caráter e a essência da alma.
Algumas expressões usadas no livro decorrem do mistério que para mim é o universo e a vida, e de algumas experiencias místicas que me levaram a acreditar no sobrenatural. Algo que denomino “mistério divino”, mas mesclado com o fenômeno da “sincronicidade” de Carl Jung que para acontecimentos ou “encontros” significativos além da minha compreensão, chamo de “conspiração cósmica”. Isto se refere à ocorrência de even tos que estão conectados de maneira significativa, mas que não possuem uma relação de causa e efeito direta.
Dos inúmeros encontros e desencontros, descrevo aqui somen te aqueles que determinaram a minha trajetória de vida. O lei tor notará que alguns capítulos são mais densos porque são os que têm o maior potencial de lírica romântica e realismo mágico, e são a sua essência, pois as narrativas focam no meu en contro com Anima, no desenvolvimento da minha identidade como homem na adolescência, na minha afirmação na maturi dade, e num relacionamento romântico não convencional, um amor impossível, que inclui encontros e desencontros, desafios a serem superados e termina sendo “o que tinha de ser”. Esse relacionamento resulta do privilégio que tive de viver uma experiência transcendental com uma das maiores intérpretes brasileiras de todos os tempos, um gênio artístico que trans formou minha vida de maneira profunda e duradoura. No en tanto, é importante considerar que isso aconteceu entre os anos 1964 e 1968, éramos jovens adultos, solteiros e tínhamos a mesma idade. Depois disso, cada um seguiu sua jornada. A dela, tristemente, terminou de forma trágica.
A citação inicial de Gabriel García Márquez, retirada de Viver para Contar, sua autobiografia, reflete sobre a natureza subje tiva da memória e da experiência. Ele sugere que a vida não é definida apenas pelos eventos que vivemos, mas principalmen te pela maneira como os lembramos e os narramos. Isso signi fica que a nossa história pessoal não é um simples registro dos fatos, mas uma construção baseada em nossas percepções, emoções e interpretações. Ao contar nossas experiências, da mos significado a elas, reformulamos detalhes e, muitas vezes, criamos versões que se encaixam na forma como queremos ou conseguimos lidar com o passado. Este é o papel da narrativa na identidade humana: somos, em grande parte, as histórias que contamos sobre nós mesmos.
Por fim, este romance é também autorreflexivo e busca uma presença ativa do leitor(a) na construção da narrativa. Espero assim contribuir para o seu autoconhecimento e para estimulá lo a valorizar a sua própria história, pois ela é única! Desejo lhe uma boa leitura e espero que goste.
